RESPIRAÇÃO BUCAL PODE CAUSAR DANOS À SAÚDE:

00:01 - 19/JUL: Segundo a ortodontista Maria Angélica Verano Freire, a ênfase atual do estudo da Síndrome da Respiração Oral deve-se ao fato desse problema causar alterações em vários órgãos e sistemas do corpo humano, sendo ligada não só à capacidade vital do indivíduo, mas também influenciando diretamente na sua qualidade de vida.

“Pela complexidade do tema, é considerado como um dos quadros mais preocupantes da saúde pública atualmente, em vista das principais alterações clínicas e comportamentais provocadas por essa patologia”, explica Maria Angélica.

Segundo a ortodontista, as narinas exercem a função de filtrar, aquecer e umedecer o ar, e quando por alguma razão morfológica, patológica ou fisiológica as narinas não desenvolvem suas funções normais, o ar que precisa chegar aos pulmões usa a via bucal, sendo que é aí que a situação pode piorar.

“O ar vai ser inalado muito frio, seco e impuro, contaminando o sistema estomatognático, causando inflamações generalizadas ou isoladas como, amidalite, renite, sinusite, otite e gengivite, além de uma série de outras sequelas”, afirma.

 

Características do paciente que apresenta respiração bucal

De acordo com Maria Angélica o paciente com a Síndrome do Respirador Bucal apresenta algumas características físicas e psicológicas: ou ele fica Foto 1: Lábios hipotônicos (moles) devido a dificuldade na respiração. Foto 2: Postura do pescoço para frente buscando o ar.acima ou abaixo do peso, pois como não consegue respirar e se alimentar ao mesmo tempo, ou engole os alimentos sem mastigar ou se alimenta muito pouco.

Apresenta também uma projeção de pescoço para frente, tentando facilitar a passagem do ar, sendo que essa postura tira-o da posição de equilíbrio corporal, causando quedas frequentes e cansaço na execução de exercícios físicos.

“Além desses sinais clínicos, o respirador bucal apresenta distúrbios como: sono agitado, que é quando o paciente tem dificuldade para dormir, se mexe muito durante o sono, ronca, tem baba noturna e geralmente acorda com a sensação de cansaço, tendo sonolência durante o dia e irritabilidade. Normalmente tem déficit de aprendizagem, baixo rendimento escolar e dificuldade de concentração”, observa.

Ainda segundo Maria Angélica, na cavidade oral, o respirador bucal pode apresentar uma atresia maxilar, mordida aberta e/ou cruzada posterior e apinhamento dental, um palato fundo e ogival, gengivite, periodontite, mau hálito, perda de paladar e olfato, fala nasalada, problemas de dicção, ausência de selamento labial, dificuldade de se alimentar com a boca fechada entre outros sintomas, que se não tratados no tempo certo, podem ser “mascarados”, na medida em que a idade vai avançando.

 

Criança com interposição lingual, uma das características de quem respira pela boca.“Outras características do respirador bucal é que a sua face geralmente é alongada, eles apresentam um olhar triste e distante, olheiras, nariz pequeno, lábios inferiores hipotônicos e invertidos e lábios superiores curtos”, ressalta.

As formas de tratamento

A respiração bucal interfere no desenvolvimento de vários órgãos e sistemas do corpo e traz repercussões na qualidade de vida do indivíduo, sendo ideal que o seu tratamento seja multidisciplinar. É recomendável o acompanhamento conjunto de otorrinolaringologista, fonoaudiólogo além do ortodontista.

“Na ortodontia o tratamento é possível graças à remodelação da maxila, aumentando assim as vias aéreas superiores, possibilitando uma respiração nasal ou mista, sendo o tratamento relativamente rápido e eficaz”, explica a ortodontista, dizendo que alguns pacientes são diagnosticados erroneamente com problemas psíquicos ou psicológicos. “Indubitavelmente, há uma estreita relação entre o respirador bucal e os estados psíquicos, pois são desencadeados pela má qualidade na respiração”, salienta.

As manifestações de ansiedade e angústia registradas em nível muscular localizam-se em primeiro lugar nos músculos da boca e suas adjacências.

 

Criança com lábios ressecados, outra característica do respirador bucal.“Por mais equilibrado que seja o indivíduo, ninguém reage com calma à falta de ar. A má oxigenação cerebral leva a constantes estados de letargia e dores de cabeça. Por isso, os respiradores bucais são geralmente pessoas agitadas e impacientes, mas também são pessoas que controlam seus sentimentos, suas angústias e aflições, o que pode ser mais prejudicial à saúde do paciente”, explica.

“Uma dica importante para as futuras mães é o cuidado com a amamentação, pois através da ordenha correta haverá a modelação adequada para uma respiração eficaz. Outra dica necessária é o cuidado que deve ser tomado com o uso de chupetas, mamadeiras e o dedo, pois também pode afetar a formação anatômica de todo o sistema respiratório.

Os educadores que estão próximos das crianças quase todos os dias também podem ajudar a diagnosticar o quadro de respiração bucal, alertando os pais sobre as dificuldades apresentadas pelas crianças na escola, que muitas vezes têm relação com os sintomas descritos”, finaliza.

 

Escrito

Renato Rodrigues Delfraro

Foco Magazine